A ESTRADA E O DIA DE RODAGEM

A ESTRADA E O DIA DE RODAGEM

Floresta Nacional de Bom Futuro, comunidade Rio Pardo.
A chuva que caiu durante toda a noite cobrou o preço da boa trilha sonora que fez para dormir logo cedo. Rio Pardo amanheceu ainda com mais barro na rua. Seria necessário cortar quase 100 quilômetros de barro até o asfalto. Próxima parada: União Bandeirante, localizada, geograficamente, como se estivéssemos em uma ponta de uma letra “U”, e fossemos até a outra. Terra e floresta, asfalto, mais terra e floresta na mesma direção.

O sábado em Rio Pardo amanheceu movimentado para o ritmo da comunidade. Passada a chuva, era o momento dos trabalhadores que vivem na área rural virem ao vilarejo para comprar abastecimentos para o campo. Lojas agropecuárias, o mercado do Josiel, todos com clientes, e a população circulando pelas ruas de terra.

Em razão da chuva que caiu na noite anterior, teve gente que não conseguiu vir à sessão. É o caso de Alan Jacks. Sua filha queria conhecer o palhaço, mas, diz o pai, a chuva dificultou o caminho.

Vindo de Ribeirão Preto alguns anos atrás, Alan Jacks traja, como muitos por ali, roupas de cowboy. “É um filme ambiental que vocês tão fazendo aqui?”, perguntou, desconfiado. E emendou: “porque se for essas coisas de meio ambiente, a gente pode fazer um bangue bangue pra vocês filmarem. Vai ter bala passando para dar mais de emoção, zunindo aqui e ali, tiro por todo lado”, comentou, sugerindo uma cena de ação.

A caravana do Festcineamazonia itinerante encontrou uma série de dificuldades, e o deslocamento tomou o dia todo, até a chegada, a noite e debaixo de chuva forte, em União Bandeirante. Dos seis veículos, um deles apenas para transportar o gerador de energia, o caminhão que carrega o equipamento de projeção, áudio e telas foi quem mais patinou em uma subida bastante escorregadia, demandando o esforço físico de toda a equipe para conseguir vencer o barro.

Como a equipe chegou tarde, e a chuva forte e constante recolheu os moradores em sua residência, não houve apresentação no sábado 17.

Chuva na Amazônia cai forte no período de chuvas, chamado de “inverno”, especialmente no início da estação durante. E é um verdadeiro espetáculo. Ela começa quando pequenas nuvens vão se juntando, como se fosse gotas de mercúrio, e de repente uma massa volumosa e pesada desloca-se com velocidade pelo céu.

A proporção do vapor em comparação com a terra é tão grande que o céu fica parecendo gigante. Quando essa massa de água começa a se aproximar, os raios de sol parecem frágeis, e vão enfraquecendo a medida da aproximação. Essa diferença de luz produz tonalidades impressionantes que vão do branco absoluto a tons de azul do claro a um escuro quase preto, acinzentado.

Compõe uma paisagem única, de tons fortes de azul em contraste com o verde escuro da floresta, o verde claro das pastagens que cada vez mais dominam a paisagem e o marrom forte do barro úmido das estradas. Brilham, nesse contraste, o branco do boi nelore. E resplandece em resistência as castanheiras.

Ao longo de todo o trajeto, as castanheiras são o símbolo da floresta imponente que existiu por todos os lados onde olhamos. Elas enfrentam, em tamanho, as torres de alta tensão do linhão das usinas hidrelétricas no Madeira.

União Bandeirante recebe pela quarta vez o Festcineamazônia itinerante. A população ficou curiosa ao ver a tenda armada ontem, pela tarde (a equipe responsável pela tenda chegou antes), criando já certa expectativa para a sessão de domingo. E é através do boca a boca no distrito, junto do esforço do palhaço Sorriso com um alto falante convocando o respeitável público, que tem sido anunciada a apresentação.

O carro de som, que tem feito a propaganda do festival nas comunidades, teve o azar de cruzar com um buraco na estrada de terra, que na noite com chuva se camuflou pelo percurso. Este impacto derrubou a caixa de som localizada no teto, tombando o equipamento sobre o vidro traseiro, que quebrou-se, e danificou, momentaneamente, este eficaz meio de comunicação na região.

Animação em Flash

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