COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTO ANTÔNIO TEM NOITE ESPECIAL COM O FESTCINEAMAZONIA ITINERANTE
Com 16 anos, Conceição sonha ser médica. Com 58 anos, Armando cultiva uma barba branca tão ‘preta’, como diria a música dos Secos e Molhados e apenas espera vender bem a produção de farinha. Aos dois anos, Jonatas só balbucia as primeiras palavras repousado no colo da mãe Líbia da Silva, 28 anos.
São três gerações criadas na comunidade de remanescentes quilombolas de Santo Antonio, às margens do rio Guaporé, distante 700 km de Porto Velho, em Rondônia. Santo Antonio é um pequeno agrupamento de sete famílias e menos de 50 pessoas. A origem, mais de 200 anos atrás, remonta ao período da escravidão brasileira.
“Meu bisavô foi escravo”, diz Armando Evangelista Carvalho. O mais velho morador atual da comunidade lembra o período de criança em que energia elétrica era artigo nunca sequer imaginado. E ainda se espanta com a chegada do Festcine. “Eu vejo isso como fantástico”, diz.
A comunidade tem apenas 13 casas. A maioria de madeira e telhado de palha. Sobrevive da produção de farinha, vendida em algumas localidades e municípios próximos, por 200 reais a saca. Instalada em uma reserva biológica acaba por enfrentar algumas contradições. Não pode, por exemplo, ter criações de animais, como porcos e gado. Mesmo com o título de comunidade quilombola, não há o definitivo registro de terras fornecido pelo Incra. Uma luta complicada e desigual.
“Temos problemas em relação à Saúde e a energia”, diz Andrade Calazâ, 29 anos, o líder da comunidade. Santo Antonio recebe apenas 400 litros de óleo diesel para abastecer o motor que gera a luz elétrica. Insuficiente e que precisa ser regrado para durar o mês inteiro.
A escola vai até o fundamental, mas há também o curso modular para jovens e adultos. As irmãs Conceição, 16 anos e Aline, 19, cursam o sétimo ano. Querem mais. Conceição, cursar medicina. Aline, direito. Sabem que é um desafio para quem mora em Santo Antonio, onde celular é algo que não existe e a comunicação é feita apenas com um telefone público que atende a todos.
Mas a televisão é presente. É isso que faz com que adolescentes como Marciano, 19 anos, use brincos nas duas orelhas e corte o cabelo estilo moicano disseminado pelo jogador de futebol Neymar.
Às 19 horas, todas essas histórias e contradições postaram-se à frente da grande tela montada no terreiro maior da comunidade. Um ‘fumacê’ espantou os mosquitos, dando uma pequena trégua a todos.
Bado cantou ‘Raça’, uma composição cujo tema coincidia com o momento e o local. O escritor português José Luís Peixoto foi surpreendido com uma homenagem feita por um morador, o senhor ‘Cidão’, que recitou uma poesia inspirada na presença do poeta na comunidade.
A apresentação mais inusitada do dia, no entanto, foi a do palhaço Martinez. O terreno acidentado dificultou o equilíbrio no momento mais difícil, o do malabarismo com facas em cima de um largo pedaço de cano. E a timidez das crianças fez com que apenas um adolescente aceitasse participar de uma parte do espetáculo. A noite foi encerrada com a exibição de filmes.
O Festival de Artes Integradas – Festcineamazônia Itinerante 2013 tem o patrocínio do BNDES, Governo Federal através da Lei Rouanet, Ministério da Cultura, Secretaria do Audiovisual, apoio cultural da Santo Antônio Energia e Parceria Institucional da Fundação Banco do Brasil.
Por Ismael Machado
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