Poesia portuguesa em Rondônia
José Luiz Peixoto, um dos mais premiados escritores portugueses, participa da mesa ‘É de poesia que o mundo precisa’, na programação do Cineamazônia 2016
Brasil e Portugal deveriam ser mais próximos. Deveriam. Às vezes essa proximidade é tão óbvia que mal a detectamos. Em outras, parece-nos que galáxias nos separam. Reduzimos nossos conhecimentos a tão pouco. O Portugal é o fado, o Brasil, o samba, a Bossa Nova. E somos tão mais que isso. Se na Literatura só conhecemos e mal conhecemos José Saramago, Pouco compreendemos o quanto estamos perdendo. Valter Hugo Mãe e Inês Pedrosa, por exemplo. Ou José Luiz Peixoto. Um poeta do cotidiano. Do pequeno. Do agridoce. Da nostalgia serena. E da reflexão sobre o tempo e seus efeitos sobre nós. Peixoto estará em Rondônia participando da programação ‘É de poesia que o mundo precisa’, na próxima sexta-feira, 26\11, no Teatro Banzeiros, às 8h.
Quem ainda não foi apresentado a esse escritor português precisa apenas pousar o olhar nas poesias de Peixoto para perceber que um mundo novo se descortina diante da leitura. É só ler por exemplo: “na hora de pôr a mesa, éramos cinco: o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs e eu/ depois, a minha irmã mais velha casou-se/ depois, a minha irmã mais nova casou-se/ depois, o meu pai morreu/ hoje, na hora de pôr a mesa, somos cinco, menos a minha irmã mais velha que está na casa dela, menos a minha irmã mais nova que está na casa dela, menos o meu pai, menos a minha mãe viúva/ cada um deles é um lugar vazio nesta mesa onde como sozinho. mas irão estar sempre aqui/ na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco/ enquanto um de nós estiver vivo, seremos sempre cinco”
É esse olhar, que percebe o crescer do musgo na parede, o pequeno roçar da ruga a manchar a face, o descaminho das palavras de Peixoto. O poeta português tece tessituras sobre a madureza e o destino, como Drummond fez do outro lado do Atlântico. Assim como brinca com a delicadeza das coisas, mesmo sem (re)criar novos sentidos, como faz Manoel de Barros, às margens do Pantanal.
A profundidade das palavras de Peixoto não está na armadilha da complexidade, da poesia que se pretende rebuscada, assim sem mais nem menos. Ao contrário. O impacto emotivo que Luís Peixoto causa é por se perceber na aparente simplicidade das palavras, o mais profundo e universal dos sentimentos, sejam o amor, o tempo, a amizade, o abandono e a saudade.
É disso, afinal, que não só a poesia, mas a vida, é prenhe. É disso que alimentamos, dia após dia, nossa existência. Peixoto sabe disso e nos regala com o que de melhor possui. Poesia encantada pela vida. Não precisamos muito mais que isso.
José Luís Peixoto nasceu a 4 de Setembro de 1974 em Galveias, Ponte de Sor. É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Inglês e Alemão) pela Universidade Nova de Lisboa. Em 2001, recebeu o Prémio Literário José Saramago com o romance ‘Nenhum Olhar’, que foi incluído na lista do Financial Times dos melhores livros publicados em Inglaterra no ano de 2007. Os seus romances estão traduzidos em vinte idiomas.
Peixoto conhece bem o Cineamazônia. Já participou de itinerância pelo Rio Guaporé levando poesia a comunidades ribeirinhas e quilombolas na fronteira Brasil-Bolívia. Dessa vez participará de um roda de conversa ao lado de outros de nomes como Paulo Lins, autor de Cidade de Deus; do pensador indígena Ailton Krenak e do cineasta Sérgio Santeiro.
Cineamazonia, 14a EDIÇÃO, tem o patrocínio do BNDES, Governo Federal, Ministério da Cultura, Secretaria do Audiovisual, Lei Rouanet. Apoio Cultural da Prefeitura de Porto Velho, Sejucel e Unir – Universidade Federal de Rondônia.
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