DIÁRIO DE BORDO – RIO PARDO
A chuva se anuncia com uma massa de um volume imenso de nuvens sobre as pequenas casas, a frágil estrada de terra e a mata enfraquecida. Despencou no final da tarde, e manteve-se constante por toda a noite. Ao longo do caminho, a caravana da itinerância do Festcineamazonia ( Festival Latinoamericano de Cinema e Vídeo Ambiental) passou por áreas de pastagens já praticamente consolidadas, partes degradadas de floresta, alguns desmatamentos recentes e, em alguns momentos, cruzou a floresta como se entrasse em um túnel.
É em um desses remanescentes florestais que existe uma placa indicando ser ali a Floresta Nacional (Flona) Bom Futuro, protegida pelo Instituto Chico Mendes de Meio Ambiente e Biodiversidade (ICMBio). Mas desde a BR 364, são cerca de 100 quilômetros de estrada de terra até que o vilarejo de Rio Pardo apareça discretamente, casa aqui, casa ali, mostrando a estética predominante utilizada nas construções: madeira.
Almoçamos no Restaurante dos Amigos, que fica pouco antes da entrada da vila. Rio Pardo é pequeno, tem poucas quadras que cortam a avenida Tiradentes – a principal via, com um promissor canteiro central. Farmácias, sorveterias, comércios, lojas agrícolas, um posto “Dos Amigos”, assim como o restaurante, com duas bombas, e mais adiante, ao final da avenida, o posto Rio Pardo, ao lado de onde foi estendida a tenda do Festcineamazônia.
O alto falante comunitário anuncia: venham ver os filmes e assistir ao palhaço, na tenda, ao lado do posto Rio Pardo. Caiu a chuva forte, veio a chuva fina depois, mas a tenda do Festcineamazonia itinerante foi principal atração dessa sexta-feira no vilarejo, recebendo crianças e adultos. Nas motos, em carros ou à pé, muita gente da cidade chegou assim que anoiteceu. Em Rio Pardo, a luz é produzida por um gerador comunitário, que funciona até as 10 horas da noite. Meia hora antes do último número de Sorriso, que cuspiu fogo, andou numa monocicleta e preparou lembranças em balão linguiça para a criançada.
Juliano, 19 anos nunca foi ao cinema, e veio conferir a atração junto de seu sobrinho, Maiquel, 6 anos que pela primeira vez viu um palhaço. “Gostei sim”, ele disse, meio intimidade com a novidade, mas sorridente e participativo. Eram dezenas de crianças presentes, e Rosilene, 8, e Maria Milena, 7, também vieram ver um palhaço pela primeira vez, acompanhadas do pai Gilson, que queria assistir a filmes na telona.
Rio Pardo está localizado dentro da Flona Bom Futuro, e por ser uma ocupação considerada ilegal, é um local desassistido. Não há luz elétrica, o posto de saúde municipal começou a funcionar a pouco, há muitos casos de malária e dengue. A população, no entanto, se orgulha de ter desbravado, como dizem, a região e enfrentar as adversidades.
Roseli de Sá tem um pequeno posto de gasolina, com duas bombas, e mora na avenida Tiradentes, a principal. Veio para Rondônia, do Paraná, no ano 2000. O marido voltou, mas ela ficou e aqui criou seu filho e sua filha. Nesse período, Roseli diz, o momento mais difícil que passou foi quando o Ibama lacrou o posto e retirou as duas bombas de gasolina. “Eu não desisti. Passei a vender em litro, economizando, e agora já consegui repor”, ela diz, orgulhosa de estar conseguindo enfrentar as dificuldades e vencer na vida.
“Antes sim que era bom”, diz Josiel, que veio para Rio Pardo da comunidade de Buritis (cerca de 70 quilometros de distancia), andando, há 12 anos. Hoje, com 43, ele acha que não está tão bom, e “todo mundo vai pra qualquer lugar de moto ou de carro, antes, era só a pé, era mais tranquilo”. Josiel teve a moto-serra e outros equipamentos apreendidos pelo Ibama recentemente, e reclama da falta de regularização do local – mesmo tendo consciência de que se trata de uma área de preservação. Segundo ele, a área foi ocupada “na política dos homens, e não na política dos políticos”. Hoje, ele espera ter sua situação regularizada – além do Comércio Cisne, local em que concedeu essa entrevista, tem também 100 hectares de terra onde planta para subsistência e vende café e leite.
Vivendo em situação irregular dentro de uma floresta nacional, que está cada vez mais desmatada, a população de Rio Pardo almeja por dias melhores no futuro.
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