Diário de Bordo – JACY PARANÁ
Dia 1
Quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Antes, era a “rua do Amor”. Às margens da BR 364, o terreno de onde foram desalojados bares que agitavam a noite em Jacy Paraná serviu para receber a tenda itinerante do FestCineAmazônia. E a população veio conferir a nova atração.
“Eu nunca fui num cinema”, comenta um motorista de carreta, pouco distante, curtindo a telona. “Aqui tem muita gente que nunca viu imagem maior do que uma TV de 42 polegadas”, ele diz.
As crianças chegam discretas. Sentam-se mais aos fundos da tenda, perto dos pais. Até que o palhaço Sorriso entra em cena. Daí correm todas para a primeira fileira. Melhor do que cinema, só mesmo show ao vivo. Alegria que ficou ainda mais animada quando Sorriso começou a fazer bichinhos com balão e distribuir para os pequenos.
Nilton Barbosa, o administrador do distrito de Jacy Paraná, veio também assistir aos filmes. Morador do local há 26 anos, hoje procura tentar melhorar a vida da comunidade com o apoio prometido pelos investimentos nas hidrelétricas. Mas não tem sido fácil.
Como está localizado entre as usinas de Santo Antônio e Jirau, o distrito tem dificuldades jurídicas para determinar quem deve ser responsável pelos impactos das obras. Oficialmente, em razão da localização no rio Madeira a montante de Santo Antônio, é esta a obra responsável. “Mas estamos geograficamente mais próximos de Jirau, e os trabalhadores e o impacto da migração chega aqui por Jirau”, ele diz. Uma decepção recente é por uma quadra de futebol que havia sido prometida e que serviria para um projeto de treinamento e educação física para cerca de 100 crianças. “Prometeram, e não deram nada”, diz Barbosa.
Um dos filmes exibidos, o curta Ilha do Jacó, mostra os impactos das hidrelétricas sobre uma comunidade ribeirinha. Na plateia, todos assistiram com atenção, sem barulhos ou conversas – e mesmo os bares remanescentes na área abaixaram o volume. Pensar nas hidrelétricas, vendo um filme, era uma experiência até então inédita para as pessoas de Jacy, onde as águas do Madeira já estão subindo.
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