FESTCINEAMAZONIA EM FORTE PRÍNCIPE DA BEIRA

Em 1972, a banda inglesa de rock progressivo Pink Floyd gravou um show nas ruínas de Pompeia, a cidade italiana destruída por um vulcão. Guardadas as devidas proporções, mas quase no mesmo clima de história impregnando o ar ao redor, o Festival de Artes Integradas-Festcineamazonia Itinerante, aportou no Forte Príncipe da Beira,distrito de Costa Marques. Na última quarta-feira, 12 de agosto, ao lado do forte, música, cinema, literatura e circo encantaram cerca de 100 pessoas moradoras do distrito.

O clima era diferente. Construído pelos portugueses em 1777, o forte pertencia ao que hoje é o estado de Mato Grosso. Com 910 metros quadrados e 53 canhões, é considerada a maior obra de arquitetura militar portuguesa.Foi erguida por Dom Albuquerque de Melo e cáceres a pedido do Marquês de Pombal. Tombada em 1950 como patrimônio histórico brasileiro, o forte ainda atrai turistas de várias partes do mundo.

A fortaleza de pedra é habitada por milhares de morcegos que, curiosamente, ajudam a construção a se manter de pé. Segundo pesquisadores, as fezes desses animais tem colaborado para manter as pedras solidificadas, como um reboco natural. “É estranho pensar nessa construção. Foi criada pensando em guerra e não amor, mas é lindo como peça de história”, dizia o palhaço Martin Martinez, antes do espetáculo. O cantor e historiador Bado sentia também um clima diferente. “É impactante. Traz outra energia”.

O clima do início da noite também transmitia energias diferentes. Muito frio e vento.

Durante todo o dia, a temperatura preocupava os organizadores do festival.  Os ventos fortes atrapalhariam a instalação do telão e também a própria performance de Martinez, muito ligada a números de malabarismo. Além disso, o receio que o frio espantasse o público. Nada disso ocorreu. Com uma população de pouco mais de 500 moradores, sendo que pelo menos 150 são crianças, aos poucos os habitantes do distrito começaram a chegar, protegendo-se do frio com agasalhos próprios.

A primeira a chegar foi a professora Eliana Maria do Nascimento, 56 anos e mais de duas décadas de profissão. Nascida e criada em Forte Príncipe da Beira, já tinha acompanhado no ano anterior à itinerância do festival. “Amei. Não podia perder essa volta. É diferente porque para nós é uma  novidade, já que quase não se tem o que fazer à noite”.

Se para a professora o Festcineamazonia não representava novidade, para a amiga dela, Lucilene Lopes, 40 anos, sim. Há um mês morando em Forte Príncipe ainda não havia visto a itinerância do festival. “Estou muito curiosa”, dizia.

O dia demorara a passar para os irmãos Péricles, 4 anos, Eduarda, 10 anos e Carlos Eduardo, nove. Todos lembravam ainda da presença anterior da itinerância. Na ocasião, o palhaço era Xuxu, personagem do ator Luís Carlos Vasconcelos. “Eles ficaram com essa lembrança forte”, conta a mãe Edilaine Barros Fernandes, 30 anos, professora da única escola do distrito. Ao lado o marido Jean Carlos Chianca dos Santos, 28 anos, confirmava o entusiasmo das crianças e fazia questão de observar que era bisneto do fundador do município de Costa Marques, Roberto Chianca. “É a segunda vez que estamos aqui e é sempre uma emoção profunda porque a história de Rondônia começa por aqui. Isso é de um simbolismo sem precedentes”, destacou a organizadora Fernanda Kopanakis na abertura da programação da noite.

A similaridade histórica foi lembrada pelo escritor português José Luís Peixoto. “Portugal ergueu esse forte e eu vim de lá para encontrar vocês”, lembrou. “E que essa noite desperte o poeta que há em cada um”, disse ao final. E mais uma vez, música, cinema, arte circense e literatura se misturaram na noite.

O Festival de Artes Integradas – Festcineamazônia Itinerante 2013 tem o patrocínio do BNDES, Governo Federal através da Lei Rouanet, Ministério da Cultura, Secretaria do Audiovisual, apoio cultural da Santo Antônio Energia e Parceria Institucional da Fundação Banco do Brasil.

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