INTEGRAÇÃO CULTURAL COM CINEMA, MÚSICA E CIRCO NAS FRONTEIRAS DO VALE DO GUAPORÉ
No fim da tarde do dia 21 de agosto, o batelão “Pato Selvagem” – que leva a equipe do Festcineamazônia Itinerante pelo Vale do Guaporé – aporta na comunidade boliviana de Remanso. No local, vivem aproximadamente 700 pessoas. Um grande campo de grama entre o rio e as primeiras casas. Rapazes com motos antigas. Tudo ali parece ser um tanto quanto antigo.
Casas de madeira ou de pau a pique. Escola estruturada, um grande ginásio esportivo em construção. Como nas demais comunidades bolivianas na margem do rio Guaporé, com exceção de Mateguá, a forte presença do exército, que sempre tem uma base nas localidades.
Bares, luzes coloridas. Mercearias. Uma espécie de padaria e também de bilhar, em baixo de um frondoso pé de tamarindo. Ali, fazem uma tortilla deliciosa. Massa fina, amanteigada e com muito açúcar.
Uma dezena de rapazes vidrados na televisão, uma das únicas por ali. Na tela, uma novela mexicana ou colombiana. Mulheres com maquiagem e expressões carregadas. Cenários, vestidos e roupas de cores vivas. Expressões exageradas e drama, muito drama. A novela parece dirigida por um Pedro Almodóvar cru, no início da carreira, brutal.
No dia seguinte, ainda pela manhã, o batelão seguiu para a vizinha comunidade de Cafetal, também nas margens bolivianas do rio Guaporé, onde ocorreu a apresentação daquela noite. Menor, em muitos aspectos, a vila assemelha-se a Remanso. Porém, com a presença militar muito mais forte. Ali, existe uma grande base do exército boliviano.
A apresentação daquela noite em Cafetal foi um sucesso. O terreno na beira do rio, onde montou-se a tela, estava completamente cheio. Grande parte das cadeiras ocupadas por militares e as suas famílias, um público total de mais de 250 pessoas. Praticamente, a comunidade toda.
Logo após a apresentação do compositor Rodolfo Minari, que acompanha o grupo, o palhaço mineiro Titetê revelou-se mais solto e ousado do que nunca. Também, quase 20 dias seguido de espetáculo. Liberdade igual a de um palhaço, talvez só os loucos possuem. A plateia era desafiadora, militares.
Por ser palhaço, Titetê pôde tudo. Colocou tenentes para jogar balões coloridos pro alto. Sargentos dançaram com as cadeiras. Subiu nas pernas dos soldados e escalou por sobre seus ombros. Gritou, em um “portunhol” único, sua sandices. Virou pelo avesso a ordem. Com sua boneca de pano surrada e graciosa, a “Titinha”, fez promessas de amor.
Foi aplaudido como nunca. Inclusive, os rígidos militares precisam, em algum momento, voltarem a ser crianças. O palhaço consegue esta proeza.
Remanso
A apresentação em Remanso ocorreu no dia seguinte, 23 de agosto. O campo, no qual foi montado a estrutura da Festcineamazônia Itinerante, recebeu centenas de moradores, todos muito animados, por volta de 400 pessoas. O evento foi aberto pelo prefeito da comunidade, Nelson Herrera, que no fim de sua fala, enfatizou a importância do projeto nas áreas de fronteira.
Em seguida, o delegado do local, Inácio Macoñon, ressaltou a importância das trocas culturais entre os países fronteiriços. Disse ainda que Bolívia e Brasil são pátrias irmãs e projetos que buscam fortalecer esta aliança são sempre muito importantes e bem vindos.
O Festcineamazônia Itinerante tem o patrocínio do BNDES, Ministério da Cultura, Secretaria do Audiovisual, Lei Rouanet, apoio cultural da Fundação Saramago e Iphan. Parceiros de Mídia Rádio Parecis FM e Canal Brasil. O Festcineamazônia é membro do Green Film Network e Fórum dos Festivais.
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