VERSALLES – BOLÍVIA RECEBE O FESTCINEAMAZÔNIA ITINERANTE
Comunidade boliviana, de nome francês, acolhe o Festival de coração aberto.
Por Sérgio Carvalho Foto de Eder Medeiros
A comunidade de nome afrancesado: Versalles, localizada nas margens bolivianas do rio Guaporé, recebeu a edição itinerante do Festcineamazônia no dia 17 de agosto. Casinhas de madeira cobertas com palha, em cada uma delas, uma bandeira boliviana. Luz elétrica. Cavalos quarto de milha soltos pelo lugar. Alguns jumentos e porcos. Uma base do exército boliviano e um oratório, para alguma Nossa Senhora, talvez, a dos navegantes.
A comunidade é próspera, com um povo gentil e receptivo. O rio é a praça da cidade, o ponto de encontro, o ponte forte da vida social e comunitária. As mulheres passam parte do dia na água, geralmente com os filhos fazendo algazarra e pulando dos barrancos. Ali, lavam a roupa, a louça e conversam sobre tudo, enquanto pequenos peixes beliscam suas pernas. Os homens, limpam o peixe do almoço ou as tracajás, que dizem ser fartas na região.
No fim da tarde a relação com o rio fica ainda mais íntima, hora do banho. Famílias inteiras se reúnem, mergulham, conversam, riem, brincam. O rio os protegem dos insistentes e vorazes piuns, assim como é um refresco para o intenso sol. O Guaporé, por ali, é cultura, é modo de vida.
Versalles era conhecida, no tempo auge da navegação pelo Guaporé, por seus habilidosos construtores de barcos. Funcionou como um dos maiores estaleiros da região. Movimentado, recebiam encomendas de comerciantes do ramo de transporte fluvial, ali era o centro do comércio de embarcações. O principal produto que estes barcos, fabricados no local, transportavam era a madeira, sobretudo, a Itaúba.
A partir da década de 80, a navegação pelo rio Guaporé, com a abertura das rodovias, principalmente a BR 364, o transporte fluvial foi ficando, a cada dia, mais caro e inviável, a ponto de diminuir drasticamente o transporte de produtos. Hoje, limita-se ao turismo, transporte de castanha e a locomoção de ribeirinhos.
O alcaide sr. Manoel Antôno Sossa, uma espécie de prefeito do lugar, tem os olhos vibrantes ao falar sobre a comunidade e os planos que tem para ela: “Aqui somos uma grande família, quase 160 pessoas. De certo modo, todos aqui somos parentes. Vivemos bem, com fartura. Vamos se capacitar mais em turismo, para receber melhor as pessoas. Vivemos aqui da agricultura familiar, de subsistência: milhos, arroz, feijão, melancia. Para venda, exploramos a castanha, que não traz prejuízo pro meio ambiente, pois coletamos. O preço da lata melhorou, assim tornou-se mais atrativo. Uma lata cheia, para venda, custa hoje por volta de R$ 60,00, antes era bem menos.”
Ao perguntar sobre a passagem do Festcineamazônia em sua comunidade ele abriu um largo sorriso: “O povo aqui nem sabia o que era cinema. O que eu gosto mesmo são dos filmes que falam sobre o meio ambiente, sobre a nossa fauna. A gente vive na Amazônia e não percebe a importância do lugar em que vivemos. Os filmes nos despertam para isso.”
Naquela noite, o alcaide brincou como criança durante a apresentação, jogando as bolas coloridas do palhaço Titetê para o alto. Versalles recebeu de coração aberto o festival. As cadeiras estavam lotadas de crianças e adultos, que participaram com grande animação do espetáculo, com aproximadamente 120 pessoas.
O Festcineamazônia Itinerante tem o patrocínio do BNDES, Ministério da Cultura, Secretaria do Audiovisual, Lei Rouanet, apoio cultural da Fundação Saramago e Iphan. Parceiros de Mídia Rádio Parecis FM e Canal Brasil. O Festcineamazônia é membro do Green Film Network e Fórum dos Festivais.
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