TUDO COMEÇOU EM GUAJARÁ-MIRIM

TUDO COMEÇOU EM GUAJARÁ-MIRIM

FESTCINEMAZONIA ITINERANTE 2015 – VALE DO GUAPORÉ Começa em Guajará-Mirim

Por Texto: Felippe Jorge Kopanakis – Foto: Gavin Andrews


 

 

A expedição do FestCineamazônia Itinerante 2015 – Vale do Guaporé começou no dia 03 de julho na cidade rondoniense de Guajará-Mirim, localizada no Vale do Rio Madeira a extremo oeste do estado. É conhecida como “Pérola do Mamoré”, rio que banha suas margens e também como “Cidade Verde”, em função de seu mosaico de áreas protegidas, que fazem da cidade um dos maiores municípios brasileiros em termos de áreas verdes preservadas. A origem de Guajará-Mirim está ligada à construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, cuja finalidade era a de transportar a borracha em seus anos de esplendor econômico.

A primeira exibição dos curtas metragens do FestCineamazônia Itinerante 2015 – Vale do Guaporé foi um sucesso. Com a Praça dos Pioneiros da Estrada de Ferro Madeira Mamoré lotada, a abertura foi realizada com a animação “Orian – A Corrida”, feita com alunos da rede pública de ensino da cidade dentro da oficina que acompanhou o FestCineamazônia Itinerante 2015 – Vale do Guaporé para ensinar crianças na arte cinematográfica. Logo depois, risos e alegria com o espetáculo circense do Palhaço Kuxixo, que com seu baldinho mágico e sua interação com a plateia, fechou a noite com chave de ouro.

A chegada até Guajará-Mirim já vislumbrava o que seria a expedição do FestCineamazônia Itinerante 2015 – Vale do Guaporé. A equipe saiu da capital de Rondônia, Porto Velho, na tarde do dia 03 de julho para cruzar pouco mais de 300 Km pelas BR-364 e BR-425. Ao cair da tarde, a primeira parada: uma pane no motor da Van que transportava a equipe. Enquanto parte resolve ir a pé até Vila Jirau, a cerca de 4,5 Km, outra fica para tomar conta dos equipamentos. Já a noite, um senhor em uma camionete para e dá carona a todos. A equipe passa parte da noite na Vila Jirau, no Ponto 10, da simpática Dona Anália, um dos locais de exibição do FestCineamazônia Itinerante 2015 – Vale do Guaporé nas comunidades do Rio Madeira. A noite, a volta e a dormida na cidade de Jaci Paraná com saída logo pela manhã.

Para um projeto do porte do FestCineamazônia Itinerante 2015 – Vale do Guaporé, que tem a natureza e a consciência ambiental como lemas, estes locais são carregados de simbolismo. Em Jaci Paraná foi construída a Usina de Jirau com 258 Km² de área alagada. Da euforia à realidade, a cidade que nos tempos da obra atraiu trabalhadores de todo país, hoje parece uma cidade fantasma, com casas e comércio fechados e inúmeras placas de “vende-se”, “aluga-se”, “passa o ponto”. Construída sem estudos de impacto ambiental, as consequências no ecossistema amazônico seriam sentidas por toda a equipe ao longo do trajeto no Rio Guaporé nos dias seguintes. E pior: navegando em grande parte sem comunicação de telefonia e internet, o FestCineamazônia Itinerante 2015 – Vale do Guaporé aguardava ansioso, em cada comunidade visitada, notícias sobre um possível rompimento da usina, o que se transformaria em uma catástrofe.

Foi nesta região que recentemente uma grande cheia do Madeira se tornou uma das maiores tragédias locais. Em função da usina e do grande acúmulo de sedimentos naturais trazidos pelo rio, o local se torna como um grande gargalo para a passagem natural das águas, potencializado com as usinas de Jirau e a de Santo Antônio, em Porto Velho. Toda a região acima do Madeira ficou isolada do resto do país bem como a passagem rodoviária para o estado do Acre, deixando milhares de pessoas desabrigadas e perdas econômicas incalculáveis.

A saída ao amanhecer da equipe do FestCineamazônia Itinerante 2015 – Vale do Guaporé é visível dois grandes impactos ambientais: uma grande queimada toma conta da região, reduzindo a visibilidade da estrada e do lado direito da rodovia, grandes extensões da Floresta estão dando lugar a criação de gado de forma extensiva. Este processo de ocupação já dura décadas na região.

Em Rondônia, como em toda a Região Amazônica, a ocupação desordenada da Floresta é chamada de “espinha de peixe”, sendo os eixos rodoviários os espigões centrais com a abertura de inúmeras vicinais para o interior e a consequente derrubada das áreas naturais, cedendo espaço ao gado e, mais recentemente, a economia da soja. Durante a noite, parados no Ponto 10, é constante avistar o tráfego de caminhões carregados com gigantescas toras de madeira retiradas da Floresta.

A expedição do FestCineamazônia Itinerante 2015 – Vale do Guaporé segue pela BR-364, onde além do Rio Madeira, do lado direito da rodovia, é possível avistar partes do Parque Nacional Mapinguari, criatura símbolo do FestCineamazonia. O Mapinguari faz parte do folclore brasileiro e em especial Amazônico e de alguns povos andinos, com um só olho e coberto de um longo pelo vermelho e com sua boca na barriga se abrindo na vertical. É um protetor da Floresta e quando em pé atinge cerca de dois metros de altura e, sentindo o seu habitat ameaçado, emite um urro altíssimo, abre suas mãos em forma de garra e exala um mau cheiro deixando sua presa tonta. É correr, se esconder ou virar presa fácil. É constante os relatos dos ribeirinhos com histórias sobre a presença do Mapinguari. É como o Saci Perêre, protetor das matas. E você leitor, acredita em Mapinguari? E no Saci?

A equipe do FestCineamazônia Itinerante 2015 – Vale do Guaporé chega na cidade de Nova Mamoré pouco depois de quatro horas de viagem, já pela BR-425, rodovia que está sendo recapeada. O local é o encontro de dois grandes rios amazônicos: o Mamoré, que será navegado pela expedição a partir de Guajará-Mirim, e o Rio Madre de Dios, cujas nascentes se localizam nos Andes. A junção dos dois leitos de drenagem são a origem do Rio Madeira, que centenas de quilômetros depois irá desaguar no Rio Amazonas.

O FestCineamazônia Itinerante 2015 – Vale do Guaporé chega a seu destino para o almoço. A jornada será longa e cheia de imprevistos, contatos com pessoas, culturas e belezas naturais totalmente diversas, mas também vamos encontrar agressões à natureza, histórias de vidas desfeitas e acima de tudo, com um mundo que parece que o Brasil, e o mundo, não conhece ou esqueceu. Um mundo que grita, mas não um grito de dor pelo que fazem a ele, mas um grito de Amor à Natureza.

O Festcineamazônia Itinerante 2015 tem o patrocínio do BNDES, Governo Federal, Ministério da Cultura, Secretaria do Audiovisual, Lei Rouanet, apoio cultural da Prefeitura de Porto Velho, através da Funcultural, Fundação Cultural de Porto Velho, Sema, Secretaria Municipal do Meio Ambiente e IPHAN.

O Festcineamazônia é membro do Greenfilm Network e do Fórum dos Festivais.

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